Irmãs de 13 e 14 aos vítimas de estupro pelo tio-avô há dois anos são abusadas novamente pelo pai


G1 - Duas irmãs adolescentes de 13 e 14 anos, foram levadas ao IML de Montes Claros nesta sexta-feira (15) após denunciarem que o pai delas as estuprava desde 2017, em Claro dos Poções. O homem, de 40 anos, foi preso em flagrante nas proximidades da casa onde morava com as filhas sob efeito de álcool. Segundo informações de familiares das vítimas, elas já haviam sido abusadas pelo tio-avô quando a mãe das duas cobrou R$ 50 para que o idoso tivesse relações com elas.

A mãe foi presa, na época, por corrupção de menores e coautoria de abuso sexual. O tio também foi preso e morreu na cadeia poucos meses depois, segundo a Polícia Civil, vítima de um infarto. O pai das duas vítimas foi quem teria denunciado que uma das filhas apareceu grávida quando tinha apenas 13 anos. A mãe delas atualmente está em liberdade, mas não teve contato com as filhas por decisão judicial.

O Conselho Tutelar de Claro dos Poções acompanha as duas meninas desde que a mãe e o tio-avô foram presos. Segundo os conselheiros, o pai requereu a guarda das filhas para que cuidasse delas após o trauma. A irmã mais velha, hoje com 14 anos, teve um filho do tio-avô; a criança tem um ano e quatro meses.

O conselheiro Alexandre Augusto Alves conta que encontrou, na casa em que as meninas moravam com o pai, condições insalubres para que elas mesmas sobrevivessem junto ao bebê. No mesmo imóvel, moram outras duas meninas que são irmãs por parte de mãe das vítimas. As crianças de aproximadamente 5 e 3 anos são filhas da mãe delas com o mesmo tio-avô que as estuprou.

“Na casa, estava tudo muito sujo. Não tinha condição nenhuma daquelas quatro crianças, mais um bebê, viverem daquele jeito. A responsabilidade da casa era toda das meninas. Elas tinham que limpar, fazer comida, então eram crianças cuidando de crianças. O bebê, inclusive, apresenta uma lixa pelo corpo, como se fosse uma alergia. A gente acredita que seja por falta de cuidado. Vamos levá-lo para que seja avaliado por um médico”, diz o conselheiro.

Segundo o Conselho Tutelar de Claro dos Poções, as quatro irmãs e o bebê devem passar a morar com uma tia delas por parte de pai, em Montes Claros. O Conselho Tutelar da cidade também vai acompanhar o caso a partir de então. A tia das garotas, que prefere não se identificar, conversou com o G1 na delegacia de plantão de Montes Claros, enquanto o autor e as filhas eram ouvidos.

A mulher, de 58 anos, estava muito abalada. Ela contou nunca ter imaginado que o próprio irmão cometeria um crime sexual contra alguém, sobretudo vitimando as próprias filhas. Ela soube que ele havia sido preso e foi até a delegacia de Montes Claros para ver o que tinha ocorrido. Não sabia que as próprias sobrinhas estavam envolvidas.

“Minha sobrinha me avisou que recebeu mensagem dele, contando que estava preso. Ele avisou pra ela que era caso de estupro, mas não falou das meninas. Aí eu falei que vinha correr atrás do que estava acontecendo, para saber mesmo. Eu não acreditava nunca. Porque quando aconteceu com o tio da mãe delas, se eu tivesse perto, não tinha deixado elas com meu irmão. Ele bebe, tem surto quando fica bêbado. Minha situação financeira não é boa, mas eu tenho dignidade. Eu ia correr atrás de assistência social para cuidar delas. Nunca pensava que ele tinha coragem para isso”, lamenta.

Quando questionada sobre a infância e sobre o tempo que morou na mesma casa que o autor, a irmã dele diz nunca ter identificado uma postura agressiva ou de desrespeito. “Ele sempre me respeitou, nunca foi agressivo comigo. Nunca imaginei, porque eu perguntava minha sobrinha que mora lá por elas. Elas nunca tinham ligado para mim. Eu preocupava com o menino pequeno, pra saber como estava passando”, comenta. A tia das vítimas diz estar extremamente triste com o caso.

"Nunca achava que isso aconteceria com minha família. Somos humildes, mas somos direitos. Não sei quem ele puxou, deve ser outro lado que não é meu. Não imaginava que alguém do meu sangue ia fazer isso. Agora meu sangue é todo para elas, meu coração, o que eu comer elas comem também. O que eu posso fazer por elas é isso. Elas vão ter paz e liberdade dentro de casa, tendo direito de estudar. Vou oferecer o que nunca tiveram, que é diversão, nunca tiveram nem mãe”, completa a mulher que preferiu não se identificar.

As duas menores eram ameaçadas pelo pai para que não denunciassem os abusos cometidos por ele. A PM encontrou na casa deles três facas e uma arma de fabricação artesanal. O homem dizia que iria matá-las caso fosse descoberto. O caso chegou até a polícia através de uma vizinha das meninas. Segundo a Polícia Militar, nessa quinta-feira (14) a mulher acionou uma viatura via 190 e relatou ter descoberto que o homem de 40 anos era autor dos crimes sexuais. A irmã mais velha a procurou ao fim do dia e confidenciou que a mais nova, de 13 anos, havia sido violentada no mesmo dia.

Ainda em conversa com a vizinha, a adolescente contou que também sofria abusos desde que elas começaram a morar com o pai, após a prisão da mãe delas. Com a chegada dos militares, as vítimas ficaram amedrontadas, mas por intermédio do Conselho Tutelar de Claro dos Poções e da própria vizinha, acabaram relatando.

As duas irmãs eram acompanhadas por psicólogos e assistentes sociais desde que os abusos do tio-avô foram descobertos. Até a noite de quinta, não tinham tido coragem de denunciar o próprio pai. O conselheiro de Claro dos Poções afirma nunca ter pensado que o autor fosse capaz de estuprar as filhas, porque demonstrou extrema preocupação com a vítima que engravidou do tio-avô.

“O pai demonstrou preocupação, acionou a polícia, Conselho Tutelar, e foram tomadas as medidas cabíveis na época. Ninguém imaginava que ele faria isso com as meninas. Todos nós fomos surpreendidos. Acreditamos no pai por ter demostrado tamanha preocupação. Até as psicólogas haviam observado isso”, comenta Alexandre Augusto Alves.

Situação das vítimas

O G1 também conversou com as irmãs vítimas de estupro. A reportagem perguntou como se sentem em relação a toda história. A adolescente de 14 anos diz saber que pode estar protegendo as irmãs mais novas dos abusos do pai dela, e padrasto das duas crianças de 5 e 3 anos. Ela contou ainda que amamenta o filho e cuidava da casa.

A menina de 13 anos se mostrou muito abalada com a situação. Não conseguiu responder nenhuma pergunta sobre o assunto e se curvava quando alguém comentava sobre os estupros. Enquanto a tia delas concedia entrevista ao G1, a mais velha se emocionou muito.

As crianças devem passar por exames médicos nesta manhã de sexta (15) e devem ser levadas pelo Conselho Tutelar à casa da tia. O pai delas também vai passar por exame de corpo de delito e deve permanecer na delegacia de plantão de Montes Claros até prestar depoimento.

Comentários :

Translate

Pesquise

Doe e Ajude com PayPal