Paciente tem alta sem tratamento em Acari; e UPA Madureira com falta comida


Só os pacientes passam tragédia maior do que os funcionários da Saúde do Rio — que, por irregularidade nos repasses da prefeitura, não recebem o salário completo há até dois meses. Na maior emergência do Rio, o Hospital Municipal Souza Aguiar, uma idosa passou dois dias sentada numa cadeira esperando por uma maca. Um homem teve alta mesmo sem receber o tratamento completo por causa do fechamento de uma ala do Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari. E, na UPA Madureira, falta até comida.

Apesar dos problemas enfrentados, o futuro prevê cortes. A prefeitura enviou uma Proposta de Lei Orçamentária Anual (Ploa) para a Câmara Municipal com uma previsão de corte de 12% na verba destinada à área da saúde — de R$ 6,01 bilhões, este ano, para R$ 5,28 bilhões, em 2019.

Assim como na UPA Madureira, os trabalhadores das unidades de Costa Barros e Vila Kennedy também estão com um mês de salário atrasado. Nas UPAs Magalhães Bastos e Realengo, o atraso é de dois meses. Nas clínicas da família, apenas funcionários de duas das oito regiões da cidade receberam integralmente. Duas estão sem pagamento algum e quatro tiveram depósitos parciais — que variam de 62% a 5% dos salários, como é o caso da região de Campo Grande.

A prefeitura informou que “vem implementando ações de ajuste fiscal, orçamentário e financeiro para adequar seus serviços ao poder de gasto da administração municipal, que diminuiu com a crise financeira e com a baixa arrecadação desde o ano passado”. As secretarias de Saúde e Fazenda afirmaram que trabalham para buscar os recursos necessários para realizar os pagamentos, principalmente os das UPAs Magalhães Bastos e Engenho de Dentro.

Dois dias numa cadeira


Maria das Dores Correia Ferreira, de 63 anos, tem um tumor no nariz que sangra. Ela recebeu o diagnóstico há seis meses e, desde então, espera por uma cirurgia para a retirada do tumor. Na madrugada de quarta-feira, no entanto, o sangramento piorou, e a família tentou uma vaga para a idosa no Hospital municipal Souza Aguiar — cuja administração está sob responsabilidade direta da da prefeitura. Mas a internação só saiu depois que a Justiça expediu uma liminar.

— O nariz da minha avó está sangrando absurdamente. Ela ficou dois dias numa cadeira e só hoje (ontem) conseguiu uma maca. Mas, até agora, só colocaram um tampão — disse a neta da paciente, Brenda Ferreira, de 19 anos.

A direção do Souza Aguiar afirmou que a idosa precisa de cuidados oncológicos e que já solicitou uma vaga ao Serviço Estadual de Regulação. Enquanto aguarda transferência, ficará em enfermaria.

Alta sem tratamento
Com os salários deste mês atrasados — além de um resíduo de 30% dos vencimentos de agosto —, médicos do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, aprovaram uma greve na unidade. Apenas 40 dos 124 leitos de clínica médica estão abertos. Mesmo sem receber tratamento, pacientes estão sendo dispensados. Foi o caso de Reginaldo Mascarenhas, de 51 anos. Ele teve um enfarte no dia 11 de agosto e, uma semana depois, foi internado em Acari. Após um mês esperando por uma angioplastia, foi mandado para casa.

— Eles me deram um encaminhamento para o ambulatório de cardiologia do Hospital de Acari, que está fechado. Procurei a clínica da família e estou na fila da regulação desde 18 de setembro — disse ele.

A direção do hospital afirmou que não há indicação para o paciente ficar internado enquanto aguarda o exame, que é marcado pelo Sistema Estadual de Regulação.

Maria Aparecida leva biscoito e frutas para o marido internado Foto: Brenno Carvalho

Falta até comida na UPA

Na UPA Madureira, a escassez de recursos afetou até a refeição dos pacientes. Maria Aparecida Pereira, de 66 anos, contou que o marido, Antonio Teixeira, de 70, vem de alimentando apenas de arroz, feijão e cenoura durante sua internação na unidade. O idoso deu entrada na UPA há oito dias, após sofrer um enfarte.

— Às vezes, tem um pedacinho de frango, mas ele nem está jantando porque não aguenta mais comer cenoura. Por isso, estou trazendo algumas coisinhas para ele, como biscoito e frutas — contou Maria Aparecida, que agradeceu a atenção dos médicos: — Eles não estão recebendo e, mesmo assim, atendem meu marido com toda a atenção do mundo. Agora é esperar para ele ficar bom.

Segundo a Secretaria municipal de Saúde, a coordenação médica da UPA informou que não está faltando proteína (carne, ovo) na alimentação oferecida na unidade.

Extra Online

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