Hospital Federal de Bonsucesso não tem morfina para pacientes com câncer


Após 12 dias internado numa maca no corredor da emergência do Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), Valdir Ribeiro Muniz, de 55 anos, chora ao saber que não poderá mais ir para casa porque não há na farmácia da unidade morfina em comprimido. Ele acabara de receber alta médica, mas sem a forte medicação, não suportaria as dores causadas pela metástase óssea. Ele implora. Quer passar a noite em sua cama. Um médico, então, decide mudar a medicação para dor por uma que o hospital tem para fornecer.

— Vamos para casa — confirma ele, olhando para a mulher, Neusa Ferreira, que acompanhava o marido.

A falta de medicamentos e insumos no HFB tem provocado a suspensão de cirurgias e, desde segunda-feira, ameaça a realização de transplantes de rim. Médicos denunciam que, até o início da noite desta terça-feira, havia no hospital apenas seis frascos de thymoglobulina, um medicamento essencial para evitar a rejeição do órgão.

— Esses seis frascos serão usados por uma paciente internada. À noite, chegaram 20 frascos emprestados, que podem garantir apenas um transplante, mas não nos permite trabalhar com a segurança necessária em função de serem pacientes de alto risco — disse um médico que pediu para não ser identificado.

Essa dificuldade em manter a segurança do paciente em função das precariedades do hospital, que ainda sofre com a carência de profissionais de saúde, foi o que levou o médico a condicionar a alta de Valdir ao seu retorno à unidade em dois dias.

— O médico explicou que, para dar alta, teve que trocar o remédio e não sabe se as dores ficarão sob controle. Vamos ter que voltar para ver se a dose está adequada. É um remédio muito forte — disse Neusa, que encara três horas de ônibus com o marido doente para ir de Ilha de Guaratiba, onde moram, até o HFB.

Além de não ter morfina na farmácia do HFB, a unidade está sem talonários de receitas especiais para dar aos pacientes que têm condições de comprar o remédio. Não era o caso de Neusa:

— Não tenho como comprar. Vou ter que ouvi-lo gritar a noite toda. Tem noites que vou dormir no quintal, porque não aguento ouvir ele chorando e gritando.

O câncer atingiu primeiro o intestino de Valdir e ele foi operado em maio. Mas começou a ter muitas dores nas pernas.

— Os médicos viram que havia dado metástase nos ossos. Ele reclama de dor no corpo todo. Não posso levá-lo para casa sem um remédio para tirar a dor dele — diz Neusa.

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