Pacientes internados nos corredores do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, no Rio


Via Extra

RIO - O Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, está em uma situação de emergência. Com seu quadro funcional drasticamente diminuído para apenas três médicos — dois clínicos e um cirurgião — responsáveis por fazer o atendimento de pronto-socorro diário da unidade, o hospital está superlotado e sem o mínimo de profissionais de saúde necessários para cumprir a demanda.

Na tarde deste sábado, a psicóloga Ione Soares acompanhava a sua concunhada, Antônia Machado, que está internada desde o dia 31 de junho no corredor do hospital. Com o Centro de Tratamento Intensivo (CTI) lotado, o local foi o único possível para tratar da aposentada que se encontra em uma situação grave devido às metástases de um câncer, e sofre de insuficiência respiratória crônica.

— Ela está deitada em uma maca com um cateter no nariz e, por mais que esteja sendo bem cuidada pela equipe, fica muita gente passando em volta, como médicos, enfermeiros... Dói de ver.

Também concunhado de Antônia, o aposentado Euclides de Araújo defendeu o empenho da equipe, mas não poupou o governo:

— Tudo isso é reflexo da má gerência e da corrupção. Dá até pena de ver os funcionários tendo que trabalhar nesta situação.

Do lado de fora, o garçom José Miranda aguardava a hora de visitar a sogra, que está internada, também em uma maca em um dos corredores, desde quinta-feira. Ele tem acompanhado o drama de outras pessoas que estão na mesma situação.

— É na mudança de plantão que tudo fica ainda mais triste. Vi um rapaz que estava com a mulher e a filha internadas que teve um ataque nervoso. Foi horrível.

No início do ano, deputados federais chegaram a fazer uma vistoria surpresa à unidade e, na última quarta-feira, médicos protestaram na Cinelância contra o desmonte dos hospitais federais. De acordo com o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Jorge Darze, a situação grave se dá por causa da falta de concursos públicos que deveriam ter sido feitos desde que o número de profissionais da saúde foi diminuindo devido às aposentadorias.

— O Ministério da Saúde não consegue suprir o déficit da rede e o Ministério do Planejamento não autoriza a abertura de novos concursos. Essa é uma política de recursos humanos falida.

Na última quarta-feira, funcionários do hospital realizaram uma reunião no bairro da Freguesia para discutirem o que está sendo feito do hospital. Eles são contra a possível cessão da unidade para uma OS e também da extinção da emergência do hospital, que também passaria a ser especializar apenas em oncologia.

— Essa discussão não está sendo feita junto da comunidade do Rio de Janeiro e não tem aprovação do Conselho Municipal de Súude. De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), qualquer mudança desse tipo deve ser levada à público e eles nunca fizeram isso. Isso pode agravar tudo mais ainda. Se você concentra uma unidade hospitalar em apenas uma especialidade, você reduz as portas de entrada no sistema e sobrecarrega o hospital e outras unidades para onde os pacientes passarão a ir. Não resolve — completou Darze.

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