Ciclista morto em atropelamento na Barra reclamava de más condições das pistas


Extra - O empresário Artur Vinícius Sales, morto nesta terça-feira ao ser atropelado por um ônibus na Avenida Salvador Allende, na Barra da Tijuca, enquanto fazia um treino de bicicleta, costumava reclamar das más condições das pistas da cidade. Adepto do ciclismo de alto rendimento há cerca de quatro anos, ele treinava em média três vezes por semana.

- Ele reclamava das más condições da pista, por ter muito buraco, então a bicicleta balançava muito. Faltava segurança, segundo ele - afirmou Alexandre Prado, amigo de infância e assessor de Sales.

Prado ia todo dia buscar o empresário às 7h, em casa. Nesta terça, ele já estranhara a situação quando encontrou a porta aberta, e a mulher dele chorando com uma amiga. Ele contou que ainda se recupera do choque com a notícia da morte:

- É inacreditável. Tiraram a vida do meu amigo. Não tem cabimento algo assim - disse Prado.

O empresário tinha uma filha de 3 anos. Sua viúva está grávida. A mulher e os pais passaram mal no Hospital Lourenço Jorge, para onde Sales foi levado, e foram para casa sob cuidados médicos. Amigos estavam no local para liberar o corpo.

Os conhecidos de Sales, que o chamavam de Vinícius, contaram que ele era uma pessoa querida por todos, entre eles os 80 funcionários da Sales Azeite, sua principal empresa. Ele possuía ainda outras duas, de importação da mercadoria. O sentimento geral é de incredulidade com a morte.

- Era uma pessoa maravilhosa, dez, ajudava todo mundo. Sempre sorrindo. Tinha um quartel de amigos por trás. Adorado pelos funcionários. Gostava de viajar muito, fazer churrasco em casa. Estava muito feliz com a filha que estava chegando - diz Prado, que o conhecia desde os 12 anos, quando eram vizinhos na Ilha do Governador.
Treinador diz que ônibus fechou ciclistas

O treinador de Sales, Roberto Vitório, da assessoria esportiva BV, explicou que o grupo desta terça-feira possuía 60 ciclistas, divididos em cinco grupos.

Segundo ele, que estava à frente um quilômetro de Sales no momento do acidente, um ônibus de turismo da empresa Três Amigos estava indo buscar um grupo de funcionários no ponto no início do Parque Olímpico. Duas ciclistas reclamaram que o ônibus já havia passado imprensando os atletas no início da Salvador Allende.

- Só faltou ao motorista esperar 10 segundos, para os ciclistas passarem. Ele passou fechando, o Artur se desequilibrou e foi atropelado pelo pneu de trás - disse Vitório, que afirmou que Sales chegava a andar a 40km/h.

Policial passa ao lado do ônibus que atropelou o ciclista na Barra Foto: Marcio Alves


No momento do acidente, de acordo com o treinador, o empresário havia passado do pelotão três para o quatro, mais atrás, a fim de recuperar a energia.

- Ele era um ciclista experiente. Sempre peço para meus alunos terem atenção com o trânsito - comentou Vitório.

O treinador explicou que o circuito de treino começa na Salvador Allende e vai até a Abelardo Bueno. Os ciclistas fazem três voltas, totalizando 45 km. O grupo costuma sair do Jardim Oceânico, depois encontra outros membros na altura do Alpha Barra, até chegar à área usada para treino. O espaço não é uma Área de Proteção a Ciclista de Competição (APCC). Por isso, não é interditado. Carros e ônibus circulam junto às bicicletas.

- É triste que na cidade do Rio, com potencial turístico gigante, temos que conviver com esses problemas, agressividade, intolerância e pressa das pessoas. E os governantes fazem leis brandas. Pedalo no mundo inteiro, todo mundo respeita ciclista. Mas aqui parece difícil mudar a cabeça das pessoas. Muito estresse no trânsito. Não estamos passeando, mas treinando e, por lei, temos o direito de estar na via. Os carros precisam dar 1,5m de distância - defendeu Vitório.

Segundo o treinador, a ambulância dos bombeiros demorou 30 minutos para chegar. Quando deu entrada no Hospital Lourenço Jorge, Sales já estava morto. Os médicos constataram que ele teve ruptura femoral.

- Por mais de 15 minutos, ele ainda estava respirando. Sair de casa e não saber se vai voltar depois de um treino, por causa da pressa das pessoas, é difícil. Hoje foi um amigo meu que perdi - disse Vitório.
Desde 2013, cinco mortes

Miguel Lasalve, presidente da Comissão de Segurança no Ciclismo no Rio, destacou que essa foi a quinta morte de ciclistas de alto rendimento na cidade desde 2013, quando Pedro Nikolay foi vítima na Zona Sul, o que gerou uma mobilização na classe por legislação protetiva.

- A ciclovia é meio de transporte até 20km/h. Acima disso, precisamos estar na rua. Por lei há distância de 1,5m obrigatória - explicou Lasalve, que diz que, em muitos casos, ciclistas não treinam na APCC por conveniência do horário.

No circuito realizado por Sales, o asfalto está novo. O principal problema é no desnível em alguns bueiros no meio da pista. Por volta de meio-dia, uma equipe da Secretaria Municipal de Conservação chegou à Avenida Abelardo Bueno para tapar buracos. Segundo um funcionário, o serviço não teve relação com o acidente.

- Já estava programado, é operação normal. Viemos tapar quatro buracos - disse ele, que não quis se identificar.

Durante a operação da secretaria, Vinícius Rangel, da equipe de ciclismo Rio de Janeiro Cycling Team, realizava seu treino no circuito. Ele afirmou que a Salvador Allende e a Abelardo Bueno costumam ser escolhidas por ciclistas por terem asfalto novo e serem largas, com quatro faixas. Ainda assim, ele avalia que as condições não são ideais.

- A gente anda em velocidade acima da ciclovia, então tem que pedalar na rua. Mas a lei diz que temos o direito de ocupar a faixa mais à direita. O principal problema é que motoristas de carros e ônibus não nos respeitam e jogam os veículos em cima da gente, principalmente se não for um grupo grande de ciclistas. E também há alguns buracos de que precisamos desviar, tornando o treino mais perigoso - relatou o ciclista, que ano passado sofreu um acidente após um carro atingir um ciclista do seu pelotão de treino, na Praia da Barra - explicou Rangel.

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