Transexual denuncia conduta transfóbica e humilhante de PMs, na Zona Norte do Rio; relato em vídeo


Via Extra

Passavam das 20h30, quando a assistente administrativa Amanda Castro, de 27 anos, que é estagiária da Prefeitura do Rio e transexual, sofreu uma das piores humilhações da sua vida. Ela acusa um grupo de policiais militares de transfobia, durante uma abordagem em um ponto de ônibus, na altura da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na Avenida Brasil. O caso aconteceu, na última quarta-feira, dia 26 de julho, e depois de sofrer ofensas e ser obrigada a tirar a roupa na frente dos militares, ela não conseguiu encontrar apoio na 37ª DP (Ilha do Governador), onde o agente se negou a registrar o fato por "falta de provas e testemunhas".

— Nunca passei por uma cena tão absurda de constrangimento, quanto essa. Estava no ponto de ônibus ao lado de uma senhora, quando uma viatura da Polícia Militar parou. Os PMs ficaram por uns 5 minutos dentro do carro me olhando. Achei estranho, mas como eu não devia nada, permaneci esperando o meu ônibus. Mas, logo depois, um dos pms saiu do carro e já veio em minha direção mandando que eu desse a bolsa para ele revistar. Perguntei o motivo e ele disse de forma grosseira que eu tinha que abrir e pronto e que era o trabalho dele — conta a Amanda.

Ainda segundo a vítima, a história ganhou contornos ainda pior depois que os outros dois PMs saíram da viatura se aproximaram dela. E em tom de deboche perguntaram o motivo dela estar nervosa:

— Falei que não estava entendendo o motivo da abordagem, já que existia uma outra senhora no ponto e só eu que fui abordada. Como eles não acharam nada em minha bolsa, um deles disse que teria que revistar o meu corpo. Eu falei então que eles precisariam chamar uma policial mulher, porque sou transexual e estou resguardada por lei. Mas foi nesse momento, que as ofensas cresceram. Um deles disse: 'Então você é menina? Me passa a identidade'. Expliquei que já tinha alterado a certidão de nascimento, mas que não havia conseguido ainda tirar a identidade, porque o Detran estava em greve.

Amanda conta que passou a ser tratada pelo gênero masculino e que um dos PMs virou para o outro e disse: "Ele me falou que é menina, mas tem pau. Se tem pau é macho".

— O policial virou para mim e falou que ele não era igual aos PMs de UPP não e que com ele as coisas eram diferentes. Foi então que ele me ordenou a baixar as calças e mostrar os peitos. Eles riam e debochavam de mim. Eu respirei fundo e disse que sabia dos meus direitos e que eles estavam apenas querendo me humilhar. Depois de 10 minutos, eles entraram na viatura e foram embora – relembra.

Muito abalada, a vítima conta que foi para a casa de um amigo na Ilha do Governador e que ele a encorajou para que ela registrasse o caso:

— Cheguei na 37ª DP (Ilha do Governador) já na madrugada de quinta-feira. E o agente disse que não iria registrar, porque eu não tinha provas e testemunhas. E me mandou procurar a Polícia Militar.

Amanda diz que conseguiu amparo com Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual (CEDS-RIO), órgão da Prefeitura do Rio.

Vítima ainda não conseguiu fazer o registro de ocorrência Vítima ainda não conseguiu fazer o registro de ocorrência
— Tenho medo de tudo isso, mas vou lutar para ser respeitada. Respeito muito o trabalho dos policiais. Sei o quanto sofrem nas ruas. Mas o que esse grupo fez comigo não faz parte do lema da corporação deles que é o de "servir e proteger".

O coordenador do Ceds, Nélio Georgini, disse que está acompanhando o caso de perto e que já marcou um encontro com Amanda para a próxima quarta-feira:

— Também convoquei o Fabiano Abreu (coordenador do Rio Sem Homofobia) e daremos todo o apoio jurídico para ela. Vamos cobrar explicações destes órgãos sobre a postura dos PMs e do policial civil que não quis registrar o fato.

O relato em vídeo.

Repercussão nas redes

O relato da Amanda ganhou repercussão nas redes, após o jornalista e amigo dela, Alexsander Lepletier gravar um depoimento e postar nas redes sociais.

— Fiquei bem abalado. A dor dela é minha também. Sofremos violências diferentes, mas com o mesmo fim: o aniquilamento quer seja de nossas identidades, corpos ou mesmo de nossas vidas. Todo o sentimento de indignação foi combustível e motivação para que pudéssemos fazer algo para resgatar a dignidade da Amanda — comentou Lepletier.

De acordo com o delegado titular da 37ª DP (Ilha do Governador), Geraldo Assed Estefan, um procedimento disciplinar será instaurado pela unidade policial para apurar a conduta dos servidores envolvidos no atendimento à vítima.

Já a Polícia Militar disse, em nota, esclarece que até o momento não recebeu qualquer denúncia a respeito do fato relatado. "Procedimentos considerados inadequados devem ser formalizados junto à Corporação para que seja feita a apuração dos fatos".

A nota ainda informa que a PM disponibiliza canais para que a população denuncie através de sua Corregedoria pelo telefone (21) 2725-9098 e endereços de e-mails denuncia@cintpm.rj.gov.br ou aic@cintpm.rj.gov.br. Também há a Ouvidoria de Polícia - (21) 3399-1199.

Fonte e vídeo

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