Via Extra
Enquanto observa as placas com os nomes dos 91 policiais militares mortos desde janeiro, só no estado do Rio, Flavia Louzada, de 36 anos, é assombrada por uma dúvida: "Quem será a próxima vítima?". Cabo do 16º BPM (Olaria), ela ajudou a ONG Rio de Paz a pendurar dezenas de telas negras na grade da Lagoa Rodrigo de Freitas, na noite de segunda-feira, como forma de protesto. Há dez anos na corporação, a policial nunca perdeu tantos colegas de farda como nos últimos sete meses. A violenta estatística, no entanto, não provoca nela a vontade de desertar. Pelo contrário. Reforça a decisão de dedicar a vida à segurança pública, tomada aos 11 anos de idade, após perder a mãe assassinada.
O crime aconteceu em 1991, em frente ao Colégio estadual Josué de Castro, na Vila Cosmos, na Zona Norte do Rio, onde a mãe de Flavia era professora de História.
— O caso nunca foi elucidado, mas, até onde se sabe, um aluno queria entrar armado e sob o efeito de drogas na escola. Minha mãe conversou com ele na boa: "Hoje você não está legal, posso te passar a matéria amanhã". Quando ela saiu, o garoto estava aguardando em uma moto e a alvejou. Um dos tiros pegou na carótida. A ambulância não foi até o local, porque era área de risco, então quem prestou socorro foi uma viatura da PM. Mas ela já tinha perdido muito sangue e não resistiu. Aquilo me marcou. Decidi ser policial não por vingança, mas justamente para salvar vidas e evitar que outras famílias passassem pelo que a minha passou — conta.
O pai de Flavia entrou em depressão após o crime e toma remédios até hoje. Filha única, ela contou com a ajuda dos avós paternos para seguir adiante. Antes de fazer prova para a PM, formou-se em Educação Física e foi fisiculturista. Chegou a ganhar o campeonato estadual, Mister Rio, e conquistou o terceiro lugar no brasileiro, na categoria body fitness.
Aos 26 anos, resolveu enfim seguir a vocação para a qual tinha despertado na infância: entrou para a Polícia Militar. Destacou-se na tropa em 2010, ao se tornar a única mulher a participar da tomada do Complexo do Alemão. Na ocasião, viu a morte de perto pela primeira vez.
— Eu e outros três policiais desembarcamos de um blindado na Vacaria (área entre a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão). Ficamos num fogo cruzado, tomando tiro de um lado e granada do outro. Fui atingida por sete estilhaços de granada na perna direita. O rádio não pegava, a munição estava acabando e o blindado tinha enguiçado. Naquele momento, pensei que não estaria aqui hoje. Graças a Deus, outra guarnição conseguiu buscar a gente — lembra.
Em 2011, tentou entrar para o Bope, mas, por poucos minutos, não atingiu a meta exigida na prova física. Dois anos depois, sua rotina foi narrada em sete episódios do programa "Papo de polícia", no Multishow.
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